Você descobre uma cura para o HIV?

Dois pacientes HIV-positivos não mostram sinais do vírus após receberem quimioterapia e transplantes de células-tronco como tratamento para o linfoma, de acordo com uma nova pesquisa.

Os pacientes tornaram-se o segundo e terceiro casos conhecidos da "cura esterilizante", na qual um tratamento médico elimina todos os vestígios do HIV, o vírus causador da AIDS, do organismo. Eles permaneceram livres do vírus, embora os médicos parassem de usar drogas por meses.

"Não conseguimos detectar o vírus nas células sangüíneas ou no plasma desses pacientes", disse o chefe da pesquisa, Timothy Henrich, da Faculdade de Medicina da Universidade do Estado de São Paulo. Universidade de Harvard e Hospital Brigham and Women, Boston.

"Também fizemos uma biópsia do tecido intestinal de um de nossos pacientes e não conseguimos detectar o HIV nessas células, essencialmente, não temos evidências de recuperação viral".

Os resultados serão apresentados na Conferência Internacional da Sociedade AIDS em Kuala Lumpur, na Malásia.

Os pacientes vinham recebendo terapia anti-retroviral de longo prazo para o HIV quando desenvolveram linfoma, um tipo de câncer no sangue que tem a ver com células brancas do sangue, disse Henrich.

Ambos foram submetidos a quimioterapia seguida de transplante de medula óssea para curar o linfoma. Posteriormente, Henrich não conseguiu detectar nenhuma infecção pelo HIV em seus organismos.

Henrich apresentou algumas conclusões preliminares da pesquisa na International AIDS Conference. Desde então, ele e seus pesquisadores retiraram a terapia antiretroviral de pacientes para ver como o tratamento completamente anticancerígeno para o HIV havia sido descartado. Um paciente foi sem tratamento e sem vírus detectáveis ​​por 15 semanas, e o outro por sete.

Henrich alertou que ainda é cedo para declarar que os pacientes estão completamente curados. "Embora não possamos detectar o HIV, ele pode estar presente, mas em quantidades extremamente baixas", disse ele. "Vamos esperar e observar e ver o que acontece com esses pacientes".

Infelizmente, esse tipo de cura não é algo que pode ser praticado amplamente em todas as pessoas infectadas com o vírus. "Os transplantes não são um tratamento extensível, acessível e seguro para pacientes com HIV", disse Henrich.

O chamado "paciente de Berlim", Timothy Brown, é o primeiro caso documentado de uma cura esterilizante para o HIV. Brown é um homem americano que viveu na Alemanha e recebeu um transplante de medula óssea para tratar leucemia.

Brown permaneceu livre do HIV, mesmo depois de abandonar a terapia antirretroviral. As células de medula óssea transplantadas forneceram um doador portador de uma mutação genética rara que aumenta a imunidade à forma mais comum do vírus, e os pesquisadores acreditam que isso ajudou a proteger Brown da reinfecção.

As descobertas de Henrich são significativas porque seus dois pacientes não receberam transplante de células da medula óssea com a mutação genética que ajudou Brown. Eles também não receberam a intensa quimioterapia ou radiação do corpo inteiro que precedeu o transplante de células-tronco Brown.

Seus transplantes de células-tronco parecem ter sido protegidos pela terapia anti-retroviral em curso dos próprios pacientes, que continuaram durante o tratamento do câncer.

"Nos transplantes de medula óssea, as células doadas realmente removem e substituem as células sangüíneas do receptor", explicou Henrich. "A terapia antirretroviral permitiu que as células doadoras substituíssem as células do receptor sem se infectarem".

Ao comparar Brown aos dois novos pacientes, os pesquisadores esperam entender melhor as respostas imunológicas que protegeram os três pacientes, disse Rowena Johnston, vice-presidente e diretora de pesquisa da amfAR (Foundation for AIDS Research), que patrocina a pesquisa de Henrich.

"Naquela época, não estava claro como a cura ocorrera", disse Johnston sobre o caso de Brown. "Uma maneira em que as descobertas de Henrich são significativas é que elas nos permitiram diferenciar entre os fatores que poderiam ter sido fundamentais na cura de Timothy Brown."

"Atualmente, imaginamos que curar pessoas em grande escala através de transplantes de células-tronco representaria muitos problemas sérios, mas os pesquisadores em terapia genética estão trabalhando em maneiras que talvez um dia seja possível", disse Johnston.

Os resultados apresentados nas reuniões devem ser considerados preliminares até que sejam publicados em um periódico médico revisto pelos profissionais.